Quem vem a Paris para contemplar as pontes sobre o rio Sena, ou teve a oportunidade de visitar o Paris Plage, a praia urbana montada nas bordas do rio durante o verão, não imagina o quanto há de lixo escondido sob a água verdinha.
Durante um ano, uma ONG francesa coletou dejetos acumulados ao longo de apenas 100 metros de margens do Sena, e o resultado foram 2,5 m3 de lixo, ou mais de 17 mil objetos, a maioria de plástico.
A experiência foi feita na Normandia, a 80 quilômetros do mar, onde o rio desemboca. Além da parte mais famosa na capital francesa, o Sena tem 777 quilômetros, e banha boa parte do norte do país.
Laurent Colasse, diretor da organização Mal de Seine, lembra que o artista brasileiro Eduardo Srur foi uma das inspirações dele para promover a ação, com forte impacto visual. Eduardo é conhecido por obras que chamam a atenção para a poluição.
“É uma forma especial dele de mostrar a quantidade absurda de lixo que anda por todos os rios do mundo. Já eu, procurei todos os meios possíveis para fazer isso e concluí que os políticos não têm dados suficientes para se dar conta do problema”, relata.
“As minhas fotos do entorno do Sena e outros rios franceses não eram impressionantes o bastante para tocá-los. Precisava, então, apresentar dados, estudos.”
Entre os objetos coletados por Colasse e sua equipe, estão quase 3 mil cotonetes, 900 chupetas, 70 seringas e até 9 vasos sanitários, jogados pelas pessoas.
Mas ele lembra que isso é apenas uma amostra muito pequena da poluição do rio.
“Na verdade, o que vemos nas beiras e no curso natural do Sena é apenas a ponta do iceberg. Se fôssemos no meio do rio, com um barco de pesca ou com uma canoa, por exemplo, perceberíamos a quantidade inacreditável de sujeira que mais adiante é jogada diretamente no mar”, lamenta.
A poluição intensiva do Sena teve o seu auge nos anos 60, mas desde o início dos anos 2000, a situação tem melhorado.
Em 2008, até salmão apareceu no rio, mas os franceses ainda estão longe de poderem voltar a se banhar no local, o que era possível até os anos 40. Esta, aliás, sequer é uma esperança da ONG Mal de Seine.
“Nós jamais voltaremos à época maravilhosa do século 19, quando tínhamos um rio Sena magnífico, do tempo dos impressionistas.
Ao mesmo tempo, nós tínhamos o começo da Revolução Industrial e o início das grandes poluições. A partir deste momento, o Sena mudou totalmente de figura”, observa Colasse.
Para ele, o principal problema hoje nos rios franceses é a falta de educação das pessoas. O ativista se diz satisfeito com as ações do governo para evitar a poluição industrial e agrária.
Foto: Reprodução Youtube / maldeseine.free.fr
Fonte: Lúcia Müzell / RFI